Esse mês, Carl Sagan faria 76 anos.
O mais querido dos ateus é reverenciado por praticamente todas as religiões, e já tem o seu segundo Carl Sagan Day.
Em seu livro "Universo Imperfeito", Marcelo Gleiser o cita umas dúzias de vezes, inclusive nas dedicatórias.
Gleiser ficou conhecido pelo público leigo por apresentar duas séries na rede Globo e narrar uma outra no Discovery.
Sagan parece que ganhou um discípulo brasileiro, na linha dos cientistas que defendem uma nova ciência, mais popular e menos pretenciosa, mas não menos comprometida com a realidade - dentro do que podemos medir e evidentemente dentro de determinados limites.
Dizer que "Universo Imperfeito" é totalmente para leigos é um pouco exagerado. O "leigo" que ele cita é alguém sem os mesmos requisitos matemáticos de um físico teórico, mas com razoável conhecimento de ciências e uma boa capacidade de extrapolar o senso comum e "aquilo que os sentidos podem captar".
Nesta sua obra, Gleiser narra todos os avanços da física de partículas e cosmologia até pelo menos 2 anos atrás, e defende a idéia de que a busca por uma teoria geral de unificação é o 'monoteísmo científico', ou seja, resquícios de influências religiosas na ciência.
Em suas alegações, cita as imperfeições e assimetrias do universo, afirmando - e com razão - que a natureza sempre se desdobrou e se transformou graças a elas e não a uma beleza e simetria platônica.
Nosso compatriota se diz um cético e em várias ocasiões criticou a postura dos "4 Cavaleiros do Apocalipse" (Richard Dawkins, Sam Harris, Daniel Dennet e Chritopher Hitchens), e para ele, a ciência deveria oferecer uma alternativa para as crenças que defendem um criador, um propósito para a vida inteligente, conexões causais da nossa existência, etc.
Curiosamente me parece que ele deu mais munição ainda a Dawkins, pois o que ele "deixa para Deus" é ser um criador estúpido e relapso, demonstrando claramente que o espaço deixado para Ele no conhecimento atual são uns poucos segundos após o Big Bang.
Acho que ele se diz cético para não confrontar demais o público "convencional", pois em diversas partes do livro ele escreve claramente sobre a completa impossibilidade da teoria de um criador e de alguma evidência para que tenhamos sido criados "com algum propósito".
Mas na linha dos defensores da comunhão da humanidade com o universo e de uma sociedade mais solidária e defensora do planeta acho mais interessante o Fritjof Capra, apesar de seus inúmeros críticos.
Mas para quem acha que de alguma forma Gleiser abre espaço para a perda de credibilidade da física teórica, num capítulo ele escreve: "...se alguém acha que algumas leis físicas dão espaço ao relativismo cultural, eu sugiro que pule do alto de um telhado..."