terça-feira, 24 de abril de 2012

O inferno é mais em baixo... ou mais em frente

Por fim tudo passou. Ou quase.

Passei por mais um aniversário vivo, essa data horrível que me lembra da decreptude imposta pelo tempo.

Junto com o fim do ano (quer época mais deprimente?) e o início do ano cuja morte do meu pai me assobra (bem captado pela 'patroinha'), atravesso a época mais detestável do ano.

Ainda não cheguei lá, vivo o limbo dos 40, mas não tenho essas babaquices da melhor idade e dos animados jogos de bocha, ou ainda, dos velhinhos radicais que vão saltar em tandem de paraquedas (já fiz isso solo mais de uma vez).

O corpo desmancha e o cérebro se petrifica.
Nada a ver com a aparência, isso não me importa, e ainda por cima a genética me foi generosa.

Quanta bobagem dizer quem a "experiência" e a maturidade vem com a idade, confundir o inevitável acúmulo de conhecimento da passagem do tempo com alguma espécie de vantagem da velhice.

Dizer que a "outra alternativa" é pior ou então "porque não se mata?" é ainda mais ridículo.
Se a não vida é uma não existência, não há "outra alternativa". A vida em si é uma ditadura.

Quase não há (aliás, no momento não lembro de nenhum - deve ser a velhice) grande insights feitos depois dos 50.

Uma das maiores (talvez a maior) mente humana simplesmente enrijeceu com a idade. Einstein uniu de maneira coerente e sólida o tempo e o espaço e também a matéria e energia. Dois pares que sempre andaram completamente separados no senso comum. 

Já com 'certa idade' e até seu fim, se recusou a aceitar a física quântica, mesmo sendo a sua própria teoria fotoelétrica a 'mãe' da dita cuja.

Não aceito a citação da criação artística mesmo a respeitando e a admirando, pois ela é uma reciclagem pessoal e abstrata de n realidades. Quase uma não criação. Uma crítica a determinado momento histórico-cultural e fim. Não que isso seja pouco, mas não é algo muito evolucionário.

Num mundo recheado de conceitos hipócritas e mercantilistas de "natureza", ecologia e sustentabilidade, afirmar que morrer de velho é "natural" chega a ser absurdo.

Vou vivendo. É o que todos fazem.

Mas não me diga que tem algo de bom e desmilinguir-se com o tempo.

Espero que os neurônios, apesar de carcomidos, preservem a dignidade de reconhecer a hora de jogar a toalha.