segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Grupos? Que grupos? (Parte 2 - oscilando para a euforia)

Esse fim de semana fui novamente na ecovila Tibá em São Carlos.
Minha primeira visita foi de um dia há uns 4 meses. Minhas ótimas impressões, a incrível sensação de carinho de pessoas espetaculares e um certo sentido de ressignificância da vida já me deram certeza de que iria voltar.

Dessa vez marquei com meu grupo (essa coisa caótica de agrupar os desconhecidos que ando postando) do facebook (blergh!) e conseguimos ir em 7 pessoas por um fim de semana todo, participando de mutirões e podendo interagir mais com as complexidades de uma comunidade intencional.

Essas 7 pessoas de uma forma geral são aquelas que tomaram a pílula vermelha (vide “Matrix”, anteriormente “Alice no País das Maravilhas” ou vá direto a Lacan se quiser algo mais denso) e passam pela angústia de “acordar” num mundo estranho, de estar flutuando sem referências, de se sentir deslocado no próprio espaço-tempo.
Nos encontrar também foi interessante e uma sensação meio estranha mas agradável de tatear aquele outro que também está “flutuando”, todos repletos da carga do medo e da dificuldade de sair da zona de conforto na qual a sociedade cristalizada nos impôs.

Como deficientes visuais nesse braile social tentamos visualizar o outro.
E a angústia da lugar a uma sensação de pertencimento, acolhimento, carinho e solidariedade. Histórias variadas que se cruzam e passam a não estarem mais sozinhas.
Sem a fantasia do paraíso idílico ou de amores sem conflito, reconhecemos a possibilidade da construção de alternativas como a que vivenciamos nesses dias.

Gerenciando os conflitos de maneira sadia, misturando o labor (Arendt) com o ócio criativo (Russell), rido e chorando, criando e encarando a burocracia obrigatória, enfim, se desconstruindo e se construindo com e pelo grupo no melhor do ser e do nada (Sartre).

Participamos de atividades no sistema agroflorestal, das refeições em grupo e da confraternização aberta a comunidade numa pizzada fantástica feita em forno a lenha ao redor de uma fogueira.
Conhecemos nesta ‘festa’ os antigos do grupo, que apesar de não mais viverem lá ou nunca terem ficado direto lá, participam ativamente dos conselhos; o grupo de permacultura urbana que é parceiro em vários projetos sociais; umas pessoas do CSA (interessante grupo/movimento chamado Comunidade Sustenta a Agricultura); e visitantes simpatizantes da vila.

Fomos embora no meio da assembleia, um momento burocrático necessário, onde foram decididos alguns realinhamentos e a aprovação de novos moradores fixos.
Uma ecovila de verdade é viva, mutante, em constante criação e refinamento, assim como seus participantes.

Aprender a voar é difícil. É não ter respostas prontas. É não ter certezas. É viver em alguma conformidade com seus ideais, ainda que eles também sejam dinâmicos.

Admito que oscilo entre a euforia e a decepção (apenas com a maior parte das pessoas que às vezes me brocha, pois a alternativa, ainda que não exata, está bastante apontada), mas procuro exercer o máximo do meu ceticismo e da minha racionalidade para me manter com alguma persistência nessa busca.

A despedida foi triste e alegre.
Triste no sentido de que queríamos ficar mais. Uma das unanimidades entre nós 7.
Alegre pois sabemos que as portas estarão sempre abertas para nós, que esse canal de diálogo contínuo estará sempre ativo.

Alguns integrantes da vila amorosamente nos perguntaram "por que não ficam aqui numa longa estada para ver se não juntam forças a nós definitivamente?"
Um convite incrivelmente emocionante que me deixou imensamente honrado (ainda que o lado racional me avise que shit happens), mas que foi prontamente compreendido pelo exposto por mim, onde indiquei, dentre outras coisas, meu desejo de encarar o difícil início e de deixar um ínfimo legado ao mundo que é preservar um pequeno pedaço da Mata Atlântica.

O tempo será meu juiz e meu professor.

Caminhemos.



sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Grupos? Que grupos?

E cá estou eu na tentativa de formar um grupo coeso e de bom caráter para, quem sabe, criar uma ecovila (ou seja lá o nome que queiram dar a isso).
Na verdade está sendo bastante frustrante.
Minha tranquilidade reside no fato de que, apesar de indesejável, posso fazer meu instituto de preservação e vida alternativa sozinho, aliás, está ultima parte já está bastante sólida há uns anos...

Entre as pessoas “do meio” que converso a maioria com algum grupo em formação ou já formado são de pessoas conhecidas entre si: amigos, parentes, colegas de classe, etc.
As pessoas que estão na luta de formar um grupo “entre desconhecidos” parece que estão sempre atoladas. Um grupo do Rio está com 8 pessoas há uns 2 anos apesar de ter tido mais de 1000 no facebook (blergh!).
No meu grupo do facebook (blergh!) já passaram quase 500 pessoas e apesar de uma meia dúzia ter tido a coragem de se conhecer pessoalmente, nem sei se esses de fato encaram tal empreitada.
Até uma simples pesquisa no grupo retorna meia dúzia de interações. Bem alertava Guy Debord...

Quase ninguém quer sair da zona de conforto e se expor ao outro como seres sociais deveriam fazer, e os que participam de “grupos de conhecidos” se expõem (em parte) porque sabem que praticamente não haverá conflitos, coisa que provoca pesadelos na maioria esmagadora.
Uma educação deficitária e a ideologia vigente os tornaram impermeáveis à discussão sadia, ao embate de ideias e a tolerância à frustração e crítica.

É a geração do “ativismo digital da bunda na cadeira”, do discurso em dissonância da prática da vida, da tolerância de araque e do falso incentivo à diferença.
Isso me faz lembrar minha juventude e meus amigos “engajados” e “ativistas crônicos”. Todos (não generalizando injustamente, todos mesmo!) viraram protótipos de mauricinhos pai de família, com carreira certinha, esposinha, filhinhos, patrimônio, tranqueiras tecnológicas, discurso moralista puritano, etc.
São esses mesmos, pasmem, que participaram do “Diretas já”, manifestações pró democracia e legalização de partidos, “fora Collor”, “salvem as baleias”, Greenpeace, blábláblá....

A ideologia do capital fez um estrago enorme. O capitalismo fundamentalista tem essa capacidade incrível de sequestrar vidas numa síndrome de Estocolmo premeditada.
Estando ela como estado e fatalmente como órgão de educação parece que teremos um longo e tenebroso caminho para alternativas sociais mais justas e igualitárias.




“Vida alternativa. Alter vida. Outra vida. Isto não só é possível como é a única e gigantesca tarefa deixada para as pessoas que não aceitam a realidade como ela é e caem no mundo na esperança de modificá-la”. (GABEIRA, 1985, p. 85)

“Nesses debates, vimos que adotar um caminho alternativo e solidário pode ser muito mais difícil e conflituoso do que seguir a maneira habitual de ação. Solidário e conflituoso não sendo, portanto, conceitos opostos, pois saber lidar com o conflito de forma respeitosa e acolhedora é o que faz um caminho solidário – e não a supressão do conflito.” (Richard Sennett)

“Podemos afirmar, assim, que ecovila Andorinha se apresenta como um movimento de resistência e, ao mesmo tempo, de proposição de uma cultura alternativa por meio da construção de novos valores e novas formas de ação, novas sensibilidades e novos questionamentos morais. Moralidade entendida aqui não como regras instituídas de conduta, mas como respostas singulares às perguntas: Como devemos viver? e O que é uma ‘boa vida’?. Encontramo-nos aqui, portanto, com sujeitos-criadores cujas práticas demonstram as inúmeras possibilidades de vida que podemos criar. Quando adotamos uma atitude aberta e desarmada, o encontro com esses sujeitos pode nos fazer repensar nossas opiniões e atitudes, e a revisitar nossos valores e intuições.

A busca de um caminho alternativo apresenta inúmeros desafios para os caminhantes: a dificuldade em romper com o trabalho e outras instituições citadinas; assumir os trabalhos coletivos voluntários com maior responsabilidade e assiduidade; saber acolher as diferenças; negociar o que o grupo tem em comum; abandonar hábitos internalizados por uma cultura extremamente hierarquizada;
aprender a dialogar com indivíduos que não compartilham dos mesmos valores éticos e estéticos, provenientes de experiências e classes sociais diferentes; erradicar a distinção entre trabalho (e trabalhador) intelectual e braçal; canalizar seu potencial transformador em ações políticas; etc. Pois todas essas mudanças exigem a construção de novas capacidades culturais e novos hábitos corporais, processo que demanda tempo e um trabalho de atenção. Tomar consciência desses desafios, discuti-los e problematizá-los em conjunto deve ser o primeiro passo para a sua superação.

A resistência oferecida pelos ecovilenses estudados não significa, por conseguinte, uma ruptura total com a cultura dominante, nem mesmo um extremismo ideológico. Trata-se de uma resistência gestada no cotidiano, nas pequenas coisas, em seu próprio ritmo. São artistas, portanto, e não engenheiros, como ressalta Jasper, que desconfia dos sistemas ideológicos que buscam reduzir a complexidade do mundo ao oferecer uma resposta unificada e ao exigir uma brusca ‘conversão’. A mudança cultural proposta pelos ecovilenses, ao contrário, se mostra gradual e singular, num processo que é único para cada indivíduo. Uma mudança entendida como um processo contínuo de busca, sem ponto de chegada, sempre em curso, sempre em movimento – exatamente como Alfredo Bosi entende o termo cultura: trabalho, processo, movimento.

De qualquer forma, ao embarcarem nesse movimento de busca, nessa reinvenção do mundo que passa pela reinvenção de si mesmos, os ecovilenses estão realizando o potencial de liberdade que os seres humanos realmente possuem: a capacidade de criar, de moldar poeticamente suas vidas. Movimento de busca que, quando efetuado em comunhão, tem mais chances de se corporificar e de transbordar para além da esfera daquela comunidade, tanto espacialmente – servindo de modelo e inspiração para outras pessoas de fora da comunidade – como temporalmente – servindo como referência de vida para as futuras gerações.” (REBECA ROYSEN – 2013)

domingo, 15 de novembro de 2015

Missão Rosetta. Curiosidades.

Dia 12 de novembro do ano passado o módulo pousador da sonda da Rosetta, da Agência Espacial Européia, Philae, pousou na superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.

O público geral não tem noção da grandeza deste feito e a imprensa como sempre prefere notícias sensacionalistas, superficiais e sobre "pseudo mistérios" e crendices.
Como dizia Carl Sagan, a divulgação da falsa ciência ou ciência ruim parece ser pior do que divulgação alguma.

O pouso não foi exatamente como o desejado devido a falhas num gancho de ancoragem do módulo, e após uns quiques, o mesmo parou num local com baixa incidência solar, consequentemente sua vida útil ficou comprometida por causa da baixa condição de carga das baterias, mas apesar disso, contrariamente o que foi divulgado, a missão foi (e está sendo) bem sucedida.

Muita informação ainda está sendo analisada e importantes achados foram feitos.

Para ficar mais fácil de visualizar este grande feito, veja o vídeo da própria ESA e depois vamos a alguns números (valores médios aproximados).



  • Terra: velocidade orbital média de 107.000Km/h - Periélio: 147 milhões de Km - Afélio: 152 milhões de Km 
  • Marte: velocidade orbital média de 24.000Km/h (maior aproximação da Terra há 60 mil anos de 55 milhões de Km – última oposição em 2012 de 100 milhões de Km) 
  • Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko:  tamanho médio de 3Km e velocidade orbital média de 135.000Km/h - Periélio: 186 milhões de Km - Afélio: 850 milhões de Km 
  • Asteriode Steins: de 4,6Km e velocidade orbital média de 31.000Km/h - Periélio: 302 milhões de Km - Afélio: 405 milhões de Km  
  • Asteróide Lutetia: de 96Km e velocidade orbital média de 68.000Km/h - Periélio: 305 milhões de Km - Afélio: 425 milhões de Km

Sinteticamente pra não enrolar: afélio é a maior distância do Sol e periélio é a menor distância. Asteroides são corpos celestes rochosos/ferrosos que orbitam o Sol. Cometas são corpos celestes de gases, gelo e detritos rochosos que orbitam o Sol às vezes uma única vez.

Dadas as grandezas envolvidas fica evidente a impressionante precisão dos estudos e das "previsões".

Algumas vezes perguntam sobre alguns "mistérios" desse ou daquele corpo celeste, e quando ouvem alguma coisa bastante sem graça costumam indagar a respeito de como se pode ter certeza se "não estiveram lá", ou seja, questionam (o que é saudável e justo) a análise espectral, telescópios de raios X, raios gama, ultravioleta, etc.

De fato, certezas absolutas não existem, porém, a plausibilidade de algumas "previsões" costumam ser feitas com boa dose de aproximação.
Vale lembrar que até nosso satélite, a Lua, era repleta de "mistérios" e se revelou uma rocha bastante sem graça conforme o "previsto" pelos cientistas céticos.
Enquanto poetas e filósofos tem bastante espaço para extrapolações, o ceticismo científico limita bastante a imaginação. Cada um no seu espaço. Todas as linguagens são bem vindas, ainda que algumas puramente especulativas e/ou de caráter lúdico - o que não deixa de ser importante para a alma humana.

Marte é outro caso de inúmeras especulações, e pra quem acompanha, por exemplo, a carreira da Carl Sagan ou qualquer outro astrônomo sério nunca se surpreendeu pelo fato de terem confirmado outra rocha sem graça.

Claro que "sem graça" se refere ao senso comum, ou seja, as pessoas que fantasiavam a cerca de coisas "estranhas" a serem encontradas nesses locais. Para a ciência eles foram e são boas fontes de estudos.



Sequência de fotos do asteroide Stein feitos pela Rosetta.
 Nenhum homenzinho verde, forças ou substancias sobrenaturais.

Foto do asteroide Lutetia.
Nada muito estranho e misterioso também.

Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
Neste ainda por cima a Philae pousou e já enviou algumas análises.
É chato mas nenhuma "gosma-energética-devoradora-de-metais" foi achada.

 Foto da superfície do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko tirada
pelo módulo Philae já "estacionado" no dito cujo.

Não há nada de mau em ser um ser sem graça, de existência ínfima e limitada, que habita um planeta de quinta categoria, que orbita uma estrela medíocre na periferia de uma galáxia como outras bilhões.
A vida continua a ser interessante e única, porém, ao que tudo indica, não existe nenhuma 'preferência' do universo pela vida, aliás, muito pelo contrário.

Não precisamos de Deus(es), santos, espíritos ou qualquer coisa "misteriosa" para vivermos bem e plenamente, o universo como ele é (segundo a interpretação humana bem entendido) e não como gostaríamos que fosse é suficientemente interessante para nos dar as sensações de arrebatamento que muitos buscam no misticismo e nas crendices implausíveis.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Chuchu e o câncer

Pesquisadores concluem que o consumo regular de chuchu reduz em 328,19% o risco de câncer no catso.

Ok, você já leu um zilhão de notícias e "pesquisas" desse tipo e todos a nossa volta continuam morrendo de câncer, AIDS, pneumonia, chilique, treco e troço.

Não aguento mais ler essas asneiras.
Aguento menos ainda quando os 'crédulos religiosos orgânicos e naturebas' condenam alguém por tomar uma tubaína.

Mesmo em ciência existe ceticismo, aliás, principalmente nela.
E não ser um cético de oportunidade que duvida de um carro novo pela metade do preço mas não que lamber jiló na lua cheia cura espinhela caída.

Quem escreveu tal artigo?
Quem foi o instituto por trás da pesquisa?
Quem financiou o estudo?
Como os dados foram coletados?
Quais os critérios usados na tal "pesquisa"?

Essas são só algumas perguntas iniciais que geralmente já colocam sob suspeita uma série de abobrinhas a cerca de algo que "faz bem a saúde" ou que "aumenta a probabilidade do desenvolvimento de câncer no dedo mindinho". As abobrinhas também são suspeitas.

Sou um defensor da agricultura orgânica e familiar bem como altamente relutante no uso dos transgênicos, eu diria quase contrário a existência deles visto que são dispensáveis, mas nem por isso satanizo o consumo de uma porcaria de vez em quando.
Em tempo: minha defesa desses temas diz mais respeito a questões sociais do que propriamente a crendices alimentares.

A alimentação é repleta de dogmas e quase todas as afirmações a respeito dela são baseadas em fé.
Nunca vi um braço amputado crescer novamente nem com alopatia nem com ervas e "comida saudável". Milagres infelizmente não existem.
E dentro do largo espectro da especulação e da estatística, o consumo regular de repolho pode ser tão bom para as pedras nos rins quanto linguiça é para os testículos.

Um mar de pessoas estressadas, ansiosas, completamente sedentárias e vivendo uma vida completamente fictícia num mundo inóspito passa os dias  comendo alface orgânica e tomando água do degelo do Everest e continua com hipertensão, diabetes e colesterol alto.

Claro, a culpada é sempre a picanha. Ish, com sal então... joguemos água benta, entoemos mantras e tomemos os sucos detox.

Os inuítes que não comem salada e se entopem de gordura de foca devem achar bastante engraçado nossas crendices. Além de serem biologicamente iguais a nós não há epidemias de hipertensão e diabetes entre eles.

Sem bom senso e racionalidade toda afirmação parece saída da bíblia, do "Sítio do pica-pau amarelo" ou qualquer outro conto da carochinha.



O Ônus do CeticismoCarl Sagan

eja uma armação. Talvez seja algo que esteja acontecendo com oseu sistema que você não foi suficientemente inteligente paradescobrir. Em vez disso, você chamaria cientistas em um monte deoutros radiotelescópios e diria que neste ponto específico do céu,nesta freqüência e filtro e em modulação e em todo o resto, pareceque você detecta uma coisa estranha. Poderiam dar uma olhada ever se acham alguma coisa parecida? E somente se diversosobservadores independentes conseguem o mesmo tipo dainformação do mesmo ponto no céu você pensa que tem algumacoisa. Ainda assim, você não sabe se aquela coisa é umainteligência extraterrestre, mas pelo menos você determinou quenão é algo na Terra. (e que também não está na órbita da Terra;está mais longe que isso.) Essa é a primeira seqüência de eventosque seriam necessários para estar certo de que você realmente teveum sinal de uma civilização extraterrestre.Note que há alguma disciplina envolvida. O ceticismo impõeum ônus. Você não pode sair gritando “homenzinhos verdes”porque vai parecer bem tolo, como aconteceu com os soviéticos e oCTA-102, quando no fim das contas for uma coisa bem diferente. Énecessário um cuidado especial quando há tanta coisa em jogo,como nesse caso. Nós não temos a obrigação de nos decidirmosantes de achar as evidências. Não tem problema não ter certeza.Freqüentemente me perguntam se acho que existeinteligência extraterrestre. Dou os argumentos padrão – há muitoslugares lá fora, e uso a palavra bilhões, e assim por diante. E aídigo que seria incrível para mim se não houver uma inteligênciaextraterrestre, mas naturalmente não há até agora nenhumaevidência forte a favor dela. E aí me perguntam, então, “é, mas oque acha de verdade?” E eu digo “acabei de dizer o que realmentepenso”. “Ok, mas o que a sua intuição diz?” Mas tento não pensarcom minha intuição. Não há problema em adiar o julgamento atéque a evidências cheguem.Depois que meu artigo “A Refinada Arte de DetectarMentiras” saiu na revista Parade (1 de fevereiro de 1987), elerecebeu, como você pode imaginar, muitas cartas. Sessenta e cincomilhões de pessoas lêem Parade. No artigo, dei uma longa lista dascoisas que afirmei serem “falácias demonstráveis ou presumíveis” –trinta ou quarenta itens. Pessoas que apoiavam todas aquelasidéias estavam igualmente ofendidas, portanto recebi montanhas decartas. Também dei um conjunto de instruções bem simples sobrecomo pensar sobre falácias – argumentos de autoridade não sãoválidos, cada etapa na cadeia de evidências tem que ser válida, eassim por diante. Muitas pessoas escreveram dizendo “você estáabsolutamente certo nas generalidades; infelizmente, isso não seaplica à minha doutrina particular”. Por exemplo, uma pessoaescreveu que a idéia de que a vida inteligente existe fora da terra éum exemplo excelente de falácia. Ele concluiu: “estou tão certodisso como de qualquer outra coisa em minha experiência. Não hánenhuma vida consciente em qualquer outra parte do universo. Ahumanidade retorna assim à sua justa posição como o centro douniverso”.Outra pessoa também concordou com todas as minhasgeneralidades, mas disse que, como um cético inveterado, fecheiminha mente à verdade. Mais notável é que tenha ignorado aevidência para uma Terra cuja idade seja de seis mil anos. Bem,não a ignorei; considerei a evidência apresentada e então a rejeitei.Há uma diferença, e esta é uma diferença, pode-se dizer, entrepreconceito e o “pós-conceito”. O preconceito faz um julgamentoantes de olhar os fatos. Pós-conceito faz o julgamento depois. Opreconceito é terrível, no sentido de que você comete injustiças eerros sérios. Pós-conceito não é terrível. É claro que você não podeser perfeito; você também comete erros. Mas é permissível fazerum julgamento depois de ter examinado as evidências. Em algunscírculos é até incentivado.Acredito que parte do que propele a ciência é a sede demaravilhamento. É uma emoção muito poderosa. Todas as criançasa sentem. Em uma sala de aula de primeira série todos a sentem;em uma sala de aula do último ano do ensino médio quase ninguéma sente, ou sequer a reconhece. Algo acontece entre essa primeirae última séries, e não é só a puberdade. Não somente as escolas ea mídia não ensinam muito ceticismo, mas também há poucoincentivo a esse sentimento arrebatador de maravilhamento.Ciência e pseudociência, ambos despertam esse sentimento.Popularizações pobres da ciência estabelecem um nicho ecológicopara a pseudociência.Se a ciência fosse explicada ao indivíduo médio de umamaneira acessível e emocionante, não haveria espaço para apseudociência. Mas há um tipo da Lei de Gresham [5] queestabelece que na cultura popular a ciência ruim tira o espaço daboa. E penso que a culpa disso é, em primeiro lugar, de nós nacomunidade científica por não fazer um trabalho melhor napopularização da ciência, e em segundo, a mídia, que é nessesentido quase uniformemente terrível. Todo jornal na América temuma coluna diária de astrologia. Quantos têm uma coluna ao menossemanal de astronomia? E acredito que também é culpa do sistemaeducacional. Nós não ensinamos como pensar. Esta é uma falhamuito séria que pode até, em um mundo equipado com 60.000armas nucleares, comprometer o futuro da humanidade.Afirmo que existe muito mais maravilha na ciência que napseudociência. E, além disso, independentemente do grau em queesse termo tem qualquer sentido, a ciência tem a virtude adicional,que não é pequena, de ser verdadeira. Notas:[1] O último teorema de Fermat já foi resolvido. E foi por humanos.[2] American Sign Language (Linguagem de Sinais Americana).[3] Cidade do interior da Califórnia.[4] Diatermia é a geração terapêutica de calor dentro do corpoatravés de correntes geradas por campos eletromagnéticos.[5] Lei de Gresham, princípio econômico de que moedas que têmvalor pleno em termos de metal precioso tendem a desaparecerquando circulam em um sistema monetário depreciado. De acordocom essa lei, as boas moedas são exportadas ou derretidas para secapitalizar o seu valor de mercado mais alto no câmbio estrangeiro