Este fim de ano fiz uma reflexão a cerca de minhas posturas perante os
amigos incentivado por críticas (não tenho nada contra boas análises, pois 'crítica' é análise) obtidas
indiretamente, vulgo “me disseram que”.
Coincidentemente li há pouco um texto do Alex Castro sobre “As prisões” (no
caso “A prisão do conhecimento”).
Suas colocações a cerca do pensamento narcísico, repressões e ideologias educacionais são muito pertinentes e amplamente “aceitas” e “debatidas”.
Suas colocações a cerca do pensamento narcísico, repressões e ideologias educacionais são muito pertinentes e amplamente “aceitas” e “debatidas”.
Mas a visão buNdista da troca de saberes é bastante suspeita.
O budismo,
apesar de lindos ideais (toda religião – ainda que muitas não se definam como
religião por questões semânticas - tem a sua parte boa), não escapa de sua
origem de doutrina pacificatória e de controle de massas. Basta estudar a
história, de preferência por autores não budistas, claro.
Não opinar, não debater, etc, também é uma posição política e evidentemente moral. O moralismo pode se manifestar na não manifestação também.
Não opinar, não debater, etc, também é uma posição política e evidentemente moral. O moralismo pode se manifestar na não manifestação também.
Aliás, a mesma educação conteudista que reprime o livre pensar é, obviamente, a que não educa para o debate, já que, como lembram meus amigos filósofos da educação, os professores educados nesse sistema tendem a usar a autoridade e não a retórica para um diálogo com seus alunos.
De qualquer modo, admito que não sei exatamente (e provavelmente nunca saberei) como manifestar certas posições sem parecer arrogante ou impositivo. Claro, tento manter isso em mente e tentar me refinar ao longo da vida.
Toda filosofia nasceu da retórica.
Não criamos nada e nossa opinião é meramente um aglomerado de “outras
pessoas”, portanto, como crescer (no sentido intelectual e de vida) sem trocar
ideias?
“Mas quer ser livre, como
outros desejam uma coleção de selos. A liberdade é seu jardim secreto. Sua
pequena conivência para consigo mesmo. Um sujeito preguiçoso e frio, algo
quimérico, razoável no fundo, que malandramente construiu para si próprio uma
felicidade medíocre e sólida, feita de inércia, e que ele justifica de quando em
vez mediante reflexões elevadas. Não é isso que sou?” – Jean-Paul Sartre, A
idade da razão.
É evidente que sabendo disso, a premissa de “não ter certeza” está (ou deveria estar) sempre presente.
“Só sei que nada sei, e o fato de
saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma
coisa.” – Sócrates
Por outro lado, como questionar sem ofender, ser violento ou parecer arrogante?
Ninguém sabe a resposta, até porque, a interpretação do outro não está sob
nosso controle.
O debate, não impositivo, não competitivo e não moralista é a base humana da formação de conhecimento. Se algum antropólogo achar uma “tribo de um só” que nasceu sozinho e viveu isolado com alguma espécie de “conhecimento mínimo” por favor me avisem.
Sem o exercício do diálogo (ou debate, ou discussão, como queiram) só sobram as polarizações raivosas e um mar de malas zen budistas.
O fato é que realmente me empolgo com determinados assuntos e determinadas descobertas e saio como uma criança que ganhou uma bola nova de encontro a meus amigos para partilhar.
A partilha invariavelmente será julgada de várias maneiras alheias ao nosso
objetivo.
Alias, julgar é uma condição humana ancestral que nos
permitiu sobreviver. Imaginem uma neandertal andando numa mata fechada quando de
repente ouve um ruído desconhecido? Bem, os que não prejulgaram em sua maioria,
eufemisticamente falando, não propagaram seus genes.
O problema não está no julgar, mas na postura cristalizada de não refazer esse julgamento com base em novas perspectivas, portanto, o julgamento, como qualquer outra posição, é uma não certeza.
Partilhar as ideias será quase sempre um debater.
Não quero ter razão, até porque, quem tem razão (no sentido de ter certeza)
é justamente o cristalizado que desejo evitar.
O fato de muitos se sentirem intimidados e “acharem que” sem mais
argumentos, foge o meu controle, apesar de, como eu disse, continuamente tentar
achar meios de expor alguns achados sem parecer impositivo.
Sempre quis partilhar pequenas descobertas e pequenas conquistas de serenidade com meus amigos não no intuito de “apresentar a receita”, mas sim no sentido de demonstrar que sempre podem haver alternativas e muitas vezes elas estão longe do “natural e óbvio” (entenda como ideologia).
Mas sim, preciso tentar ser mais delicado, pois mesmo uma 'não posição' de ”será que?” para um ouvido cristalizado e despreparado para uma troca civilizada de ideias gerará reações desproporcionais.
De qualquer modo tenho que analisar o excesso de discurso/debate e me esforçar para fugir das tendências narcisistas comuns no mundo atual, afinal, como eu escaparia ileso disso?
Somos humanos, vamos evitar essa praga das “não-posições zen” que estão na moda (anteviu bem André Comte-Sponville). Não precisamos ser violentos, maniqueístas e cheios de certezas, mas é imperativo para a sociedade que aja debate e, devemos admitir, sermos confrontados/questionados gera desconforto e reações emocionais.
É gafanhoto, não quer alterações no seu “equilíbrio energético” tome sempre seu Rivotril e/ou converse apenas com o ascensorista ou seu pet, ainda assim...